Pois, e já que tinhamos uma casa nova, porque não tambem casar? E foi o que aconteceu, há dois dias atrás, ou seja a 15 de Agosto, exactamente 15 anos depois de termos iniciado a nossa relação, resolvemos oficializar a coisa. É um facto que provavelmente nunca o teriamos feito noutras circunstâncias, mas nas nossas, pelo menos para mim, foi uma forma de dizer, "ainda não foi desta!", ainda tenho mais qualquer coisa cá dentro. E espero que para ti tambem seja, pelo menos, isso, Luisa. (Claro que estou cansado, não tenho problema em reconhece-lo. Também tu estás, provavelmente muito mais do que eu, eu sei, mas nem imagino. É desesperante, frustrante, angustiante, desgastante e deprimente. Mas que podemos fazer senão continuar, por um desejo de dias melhores)
Eu estava completamente esgotado ao chegar o dia, e temia que as coisas não corressem bem - tudo é sempre complicado na nossa actual situação. Mas o dia foi daqueles em que nada podia correr mal. Desde o serviço no Registo Civil, em que a conservadora nos ofereceu um Poema ("Soneto da Fidelidade", de Vinícius de Morais - gostei do pormenor de algumas pessoas nos perguntarem há quantos anos conheciamos a conservadora, por ela nos parecer conhecer tão bem e empatizar de tal forma conosco! Na realidade, conhecemo-nos lá, no registo, mas ficaremos para sempre ligados pelos momentos que se seguiram), onde esteve presente apenas familia mais proxima e alguns amigos (Obrigado a todos pela presença, foi de facto um momento especial), até ao almoço (ideia que, diga-se de passagem, eu detestei originalmente, por achar que a Luisa precisaria de um descanso entre "festas" - mas que ela aguentou heroicamente) em que esteve apenas a familia da Luisa, no 31 da Armada (já combinámos voltar, só os dois, para comer mais coisas boas), até à apoteótica festa que os nossos AMIGOS prepararam para nós na "Casa da Avó" em Sintra, um local já famoso pelas suas festas. E a festa ainda teve um prolongamento na tarde de hoje (Terça-Feira), quando o serviço do 3º Esquerdo em Alcoitão nos presenteou, ao lanche, com um bolo de casamento!
E aqui fica, de facto, um reconhecimento a TODOS, não só pelo casamento mas finalmente por TUDO. Não vou individualizar ninguem, porque seria um desrespeito para os que me esquecia de mencionar - até porque não podia falar em todos, ao longo deste ano que passou os apoios tem sido muitos, por vezes vindos de onde seria óbvio, por vezes de onde menos se esperava. E até porque todos sabem, lá no fundo, que os seus gestos não tem preço. No fim da vida, quando estamos à espera de ir para desta para melhor (ou não!), pergunto-me o que será que pensamos, do que será que nos arrependemos, o que gostariamos de ter feito? De certeza que não ficamos tristes ou contentes por termos ou não comprado um plasma XPTO. Penso que o que conta é termos a consciencia tranquila. É termos estendido a mão quando era mais fácil termos ignorado (e quantas vezes eu já te vi fazer isso neste ultimo ano, sim a TI!) . Penso que ter estado ao lado dos nossos amigos, quando eles precisaram, é fundamental. E não deixa de ser engraçado que, se por vezes pensamos ou duvidamos de quem são os nossos amigos verdadeiros, sei que tenho umas boas dezenas daqueles que, se for preciso alguma coisa, uma ida a algum lado a meio da noite, eles estarão lá - e sinto-me um pouco cínico porque no ultimo ano tenho sido um péssimo amigo em geral, tenho-me esquecido dos meus amigos, tenho ignorado quase tudo à minha volta. Quase sempre é muito mais dificil pedir ajuda do que dá-la. Há pessoas que não via à quase um ano, tal como a Luisa, mas que no dia 15 disseram "eu, estou aqui". E foi uma tal força aquela que se sentiu no dia 15, uma tal envolvência, uma tal demonstração de amizade e amor, que durante um dia inteiro quase não senti nada nos ombros. Foi um dia em que a Luisa riu, com prazer, de manhã à noite, e isso para mim, é o maior bálsamo. Foi um dia que, quem sabe, possa ter sido uma janela para um futuro que, há quase um ano atrás, na pior noite da minha vida, uns cabrões que não tem outro nome me tentaram tirar para sempre. Mas ela ainda não estava preparada para nos deixar. Quem sabe se por mim, se pelo Filipe, se por uma promessa de nós dois. O que eu sei é que só estou tranquilo, só estou verdadeiramente descansado, as coisas só fazem sentido, quando me deito ao pé de ti e adormeço a teu lado. "Nothing heals me like you do", e quem lá esteve sabe a que me refiro.
Desculpem o desabafo, não faz grande sentido, mas tudo tem o sentido que tem, mesmo quando não tem sentido nenhum.